segunda-feira, 20 de setembro de 2010

. bluebird / pássaro azul


.

pássaro azul

[(Revista)Purr - No. 1 - 1975]

há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas sou muito durão para ele,
eu digo, fique aí, não vou
deixar ninguém te
ver.

há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas eu derramo whiskey nele e inalo
fumaça de cigarro
e as prostitutas, os bartenders
e os balconistas de mercado
nunca sabem que
ele está
lá dentro.

há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas sou muito durão para ele,
eu digo,
fique escondido, você quer me
atrapalhar?
quer estragar os
trabalhos?
quer arruinar minhas vendas de livros na
Europa?

há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas eu sou muito esperto, só o deixo sair
algumas vezes à noite
quando todos estão adormecidos.
eu digo, eu sei que você está aí,
então não fique
triste.

então o coloco de volta,
mas ele está cantando um pouco
lá dentro, eu ainda não o deixei
morrer
e nós dormimos juntos desse
jeito
com nosso
pacto secreto
e é belo o bastante para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?

*O panfleto da foto acima foi publicado em Novembro de 1991 para os amigos da Black Sparrow Press no evento San Francisco Bay Area Book Festival (Festival do livro da baía de São Francisco)

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Charles Bukowski recita "Bluebird":


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Animação baseada no poema de Charles Bukowski:

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

. peace / paz


peace

[from The Last Night of the Earth Poems (1992), Black Sparrow Press]

near the corner table in the
cafe
a middle-aged couple
sit.
they have finished their
meal
and they are each drinking a
beer.
it is 9 in the evening.
she is smoking a
cigarette.
then he says something.
she nods.
then she speaks.
he grins, moves his
hand.
then they are
quiet.
through the blinds next to
their table
flashing red neon
blinks on and
off.

there is no war.
there is no hell.

then he raises his beer
bottle.
it is green.
he lifts it to his lips,
tilts it.

it is a coronet.

her right elbow is
on the table
and in her hand
she holds the
cigarette
between her thumb and
forefinger
and
as she watches
him
the streets outside
flower
in the
night.

.

paz

[from The Last Night of the Earth Poems (1992), Black Sparrow Press]
  
próximo à mesa de canto no
restaurante
está sentado
um casal de meia idade.
eles terminaram suas
refeições
e estão bebendo uma cerveja
cada um.
são 9 horas da noite.
ela está fumando um
cigarro.
então ele diz alguma coisa.
ela assente com a cabeça.
então ela fala.
ele sorri, move sua
mão.
então eles ficam em
silêncio.
através da persiana próximo à
mesa deles
um neon vermelho reluzente
está
piscando.

não há guerra.
não há inferno.

então ele levanta sua garrafa de
cerveja.
ela é verde.
a leva até seus lábios,
e vira.

é como um troféu.

o cotovelo direito dela está
na mesa
e em sua mão
segura o
cigarro
entre o polegar e o
indicador
e
enquanto o
observa
as ruas lá fora
florescem
na
noite.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

. death is smoking my cigars / a morte está fumando meus charutos

death is smoking my cigars

[from The Last Night of the Earth Poems (1992), Black Sparrow Press]

you know: I'm drunk once again
here
listening to Tchaikovsky
on the radio.
Jesus, I heard him 47 years
ago
when I was a starving writer
and here he is
again
and now I am a minor success as
a writer
and death is walking
up and down
this room
smoking my cigars
taking hits of my
wine
as Tchaik is working away
at the Pathétique,
it's been some journey
and any luck I've had was
because I rolled the dice
right:
I starved for my art, I starved to
gain 5 god-damned minutes, 5 hours,
5 days---
I just wanted to get the word
down;
fame, money, didn't matter:
I wanted the word down
and they wanted me at a punch press,
a factory assembly line
they wanted me to be a stock boy in a
department store.

well, death says, as he walks by,
I'm going to get you anyhow
no matter what you've been:
writer, cab-driver, pimp, butcher,
sky-diver, I'm going to get
you ...

o.k. baby, I tell him.

we drink together now
as one a.m. slides to 2
a.m. and
only he knows the
moment, but I worked a con
on him: I got my
5 god-damned minutes
and much
more.

.

a morte está fumando meus charutos

[extraído do livro The Last Night of the Earth Poems (1992), Black Sparrow Press]

sabe como é: estou aqui mais uma vez
bêbado
ouvindo Tchaikovsky
no rádio.
Jesus, eu o ouvi há 47 anos
atrás
quando eu era um escritor que passava fome
e aqui está ele
novamente
e agora faço um pouco de sucesso como
escritor
e a morte está andando
para cima e para baixo
neste quarto
fumando meus charutos
tomando tragos do meu
vinho
enquanto Tchaik toca ininterruptamente
a Pathétique,
tem sido uma jornada e tanto
e qualquer sorte que tive foi
porque rolei o dado
direito:
passei fome pela minha arte, passei fome para
ganhar malditos 5 minutos, 5 horas,
5 dias---
eu só queria
escrever;
fama, dinheiro, não importava:
eu queria escrever
e eles me queriam em uma puncionadeira,
na linha de montagem de uma fábrica
queriam que eu trabalhasse no estoque em uma
loja de departamentos.

bem, diz a morte, enquanto caminha,
eu vou te pegar de qualquer maneira
não importa o que você tenha sido:
escritor, motorista de táxi, cafetão,açougueiro,
pára-quedista, eu vou te
pegar...

tudo bem querida, digo a ela.

nós bebemos juntos agora
enquanto uma da manhã transforma-se em
duas da manhã e
somente ela sabe o
momento, mas eu a
trapaceei: consegui meus
malditos 5 minutos
e muito
mais.